Se eu fosse um cara, seria bem escroto.
Não que eu quisesse ser, ou soubesse que estava sendo.
Mas a sociedade se encarregaria disso.
Branco, de classe média-alta, com todas as oportunidades apresentadas de bandeja.
Se eu fosse um cara seria bem diferente do que sou hoje.
A criação seria praticamente a mesma: escola particular, ter tudo o que quer.
Esse seria o problema.
Teria tudo o que quisesse.
Tudo mesmo.
Se eu fosse um cara meu gênero não me impediria de tomar nenhuma decisão.
Poderia morar onde quisesse, não importando o quão perigosa seria a vizinhança.
Poderia ir e vir sem me sentir coagida a evitar certos lugares.
Poderia olhar para onde quisesse sem que se precipitassem o motivo.
Se eu fosse um cara não precisaria tentar com tanto afinco.
Não precisaria fazer tanto esforço.
Teria uma personalidade parecida?
Teria os mesmos gostos?
Talvez não precisasse ser o que sou.
Talvez não soubesse ser o que sou.
Se eu fosse um cara, provavelmente seria gay.
E aí tudo o que disse antes mudaria completamente.