Negra Sim!

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Postado por:Maria Raquel

Um dia disse: negra.
E me disseram: negra?
Eu disse: negra!
E me disseram: negra não.

Me disseram:
Morena.
Pretinha.
Cor de jambo.
Moreninha.

Ouvi tanto o que me diziam que acabei dizendo também.
Dizia: negra não, morena.
Dizia: moreninha.
Dizia até: pretinha.

Disse tanto.
Disse a vida toda.
Disse por tanto tempo que acabei acreditando que negra não.
Negra não, morena.

E meus filhos, e meus netos, negros não.
Brancos.
Brancos.

Negra não.


Se Eu Fosse Homem

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Postado por:Maria Raquel

Se eu fosse um cara, seria bem escroto.
Não que eu quisesse ser, ou soubesse que estava sendo.
Mas a sociedade se encarregaria disso.
Branco, de classe média-alta, com todas as oportunidades apresentadas de bandeja.

Se eu fosse um cara seria bem diferente do que sou hoje.
A criação seria praticamente a mesma: escola particular, ter tudo o que quer.
Esse seria o problema.
Teria tudo o que quisesse.
Tudo mesmo.

Se eu fosse um cara meu gênero não me impediria de tomar nenhuma decisão.
Poderia morar onde quisesse, não importando o quão perigosa seria a vizinhança.
Poderia ir e vir sem me sentir coagida a evitar certos lugares.
Poderia olhar para onde quisesse sem que se precipitassem o motivo.

Se eu fosse um cara não precisaria tentar com tanto afinco.
Não precisaria fazer tanto esforço.
Teria uma personalidade parecida?
Teria os mesmos gostos?
Talvez não precisasse ser o que sou.
Talvez não soubesse ser o que sou.

Se eu fosse um cara, provavelmente seria gay.
E aí tudo o que disse antes mudaria completamente.


 

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