"Me devolva o Neruda (que você nem leu)". É com essa frase que Mario Prata nomeia sua crônica de despedida da coluna que escrevia em um jornal. Li pela primeira vez na pré-adolescência, provavelmente em um livro didático ou numa apostila de escola (você pode ler aqui). Não lembrava nem sobre o que era, mas a frase ficou grudada na memória.
Ficou tanto que agora sempre que falam em Neruda eu lembro dela.
Outro dia, no Twitter vi uma menção e automaticamente me veio a frase. Mesma coisa durante uma aula, em que por alguma razão Trocando em Miúdos foi mencionada.
O curioso é que, embora seja inspirada na canção de Chico Buarque, o verso na música é na verdade "Devolva o Neruda que você me tomou/E nunca leu".
Prefiro mesmo a do Prata.
E como adoro o "Me devolva o Neruda, que você nem leu"!. Rola tão bem na língua da gente.
Uma frase tão pequena, mas com tanto significado. Faz imaginar porque alguém emprestaria um livro (e na versão do Chico, tomaria, o que já remete a roubar mesmo) e não leria.
Será que foi uma daquelas coisas que acontecem quando a gente começa a se interessar por alguém?
Quando queremos ter algo em comum com a pessoa, e o outro gosta tanto de algo, que fazemos uma forcinha pra gostar também?
Será que um gostava tanto de Neruda que o outro teve que fingir que gostava?
E aí, quando se separaram, um deles descobre que o outro estava pouco se lixando pra poesia. E joga isso na cara, como uma das causas da separação.
"Você nem gostava mesmo de Neruda! Tanto que não tocou no livro!!"
Não sei se seria algo gritável durante uma discussão. Mas no fim, eles estavam mesmo trocando em miúdos.
Quando o coração da gente está quebrado, qualquer coisa serve pra apunhalar o dos outros.
Mas o que dói mesmo é saber que a outra pessoa gostou de você a ponto de fingir ter algo tão importante assim em comum.
E que talvez você tenha feito o mesmo.