Quando eu tinha cinco anos queria ser cantora. Até descobrir que a voz que eu ouço na minha cabeça quando falo não é a mesma que as outras pessoas ouvem ou que sai do microfone. Desisti do glamour da profissão.
Aos onze ia ser uma estilista famosa com modelos usando meus designs em semanas da moda. Até entender que pessoas que não sabem desenhar não se dão muito bem nesse ramo.
Dos treze aos quinze apenas respondia quando me perguntavam com um singelo "Não sei". Até que o vestibular começou a se aproximar e essa frase não entrava mais na categoria de respostas para a pergunta de "O que você vai fazer da vida?".
Então eu comecei a responder que queria ir para a área de diplomacia, porque era a única resposta mais próxima e respeitável para "viajar pelo mundo como uma cigana pós-moderna, com mais banhos, mais dentes naturais que de ouro, e uma tentativa mínima de vestir roupas que são vendidas em lojas desse século".
Até perceber que a diplomacia estava muito fora da minha realidade.
Dezessete foi a idade em que decidi que, apesar de desistir da diplomacia, eu ainda poderia viajar pelo mundo. Era fácil, apenas me tornar uma correspondente de guerra.
É, pra falar a verdade, acabou que não é tão fácil assim. Principalmente quando o vestibular para isso é tão concorrido.
Com dezoito a carreira de escritora me pareceu ser o caminho certo, e por um tempo realmente acreditei nisso. E então eu descobri que para se tornar escritor, não apenas nesse país, mas em todo mundo, é preciso muito mais do que dom, boa gramática, temas originais ou mesmo saber colocar as ideias de forma clara.
É preciso sorte, muita sorte.
Ou dinheiro, muito dinheiro.
E escrever. Escrever como se você não tivesse mais nada para fazer da vida. Escrever como se o mundo não exigisse de você um curso superior, um mestrado, um doutorado e um pós-doutorado. Como se sua mãe não fosse ligar se você se trancasse no seu quarto e nunca mais falasse com seus amigos. Como se tudo o que você tivesse que fazer fosse escrever.
Descobri que nenhuma dessas coisas condiz com a realidade.
Na verdade, qualquer coisa que pensar como profissão, em minha mente, será algo idealizado.
E é por isso que agora eu não quero ser nada.
Quando me perguntam "O que você vai fazer da vida?" apenas respondo "Não sei, não decidi.".
Assim mesmo, sem nenhuma culpa. Sem nenhum remorso.
Porque quero decidir se vou virar à esquerda ou à direita quando chegar à bifurcação.
Quero apreciar o caminho enquanto o percorro, sem me importar muito onde vai dar.
Quero viver o momento.
Mesmo que ele não seja tão perfeito quanto eu tinha planejado.