Ela encontrou uns conhecidos na frente e se enfiou na fila junto com eles. Até aí tudo bem. Já fiz isso algumas vezes também, então quem sou eu pra falar?
Mas tinha alguma coisa sobre essa garota que despertou algo em mim.
Não eram as roupas de marca. Ou a mala de viagem da moda, que ela usava muito melhor que eu. Nem os amigos bonitos e o porte altivo, andando como se ela fosse uma modelo.
Por algum motivo inexplicável aquela garota me irritava.
Então me lembrei que a conhecia. Do colegial. Um ou dois anos mais velha.
E entendi que não era irritação. Era antipatia.
Antipatia, do contrário de empatia.
Ela nunca me fez nada pessoalmente. Ela nem sabe quem eu sou.
Mas é aquele tipo de situação de metonímia. A parte pelo todo.
Ela representa todas aquelas garotas de roupa de marca. Que eu jurava não me importar em ter.
Todas aquelas garotas que iam às festas. As que a gente comentava por não ter estado presente.
As que saiam com os caras mais velhos e bonitos. Que a gente só podia ter uma crush, porque eles nem tomavam conhecimento da nossa existência.
As que conseguiam se arrumar pra ir pra escola. Maquiagem e sapatilhas.
Não iria nem me lembrar que ela existia se não fosse a pose.
Agindo como há quatro anos atrás.
Como se ainda estivesse andando pelo corredor do Ensino Médio de uma cidadezinha insignificante.
Como se ainda fosse popular.
Como se ainda fosse aquele tipo de garota.
Eu cresci, mudei. Não sou mais aquela garota que apenas comenta sobre as festas. Eu participo delas. E se não, não ligo muito sobre o que aconteceu.
Mas por que você não? Por que?