Três da manhã.
Era aquele momento entre o sono e a realidade em que os duendes e as fadas aparecem para decidir se vamos ter sonhos ou pesadelos. Momento em que sombras se confundem com dinossauros e roupas dentro dos armários com monstros.
Foi naquele exato momento que tive uma epifania.
Uma dessas ideias geniais, que mudaria o rumo da vida a partir de quando decidisse coloca-la em prática.
Algo tão importante que ficou gravado em algum lugar no meu cérebro.
Muito bem marcado, como uma tatuagem que se faz de impulso. Como a cicatriz que adquiri quando brincava de pega-pega aos cinco anos.
Adormeci decidida que na manhã seguinte iria tomar uma atitude.
Pegar o telefone. Mandar uma mensagem. Fazer sinal de fumaça.
Mudar o rumo da vida.
Amanheceu rápido, como todo amanhecer acontece. O céu ficou azul claro. De repente não era mais escuro. As luzes da cidade se apagaram, pessoas começaram a se levantar, e tudo foi ficando barulhento. Outro dia começava.
E com a noite se foi também minha forte decisão.
Ela ainda estava lá na minha mente, como a tatuagem e a cicatriz.
Mas não parecia tão genial assim mais. Na verdade, parecia um tanto estúpida.
Não, não estúpida, apenas nem tão epifânica.
Parecia mesmo um tanto humana demais. Simples demais.
Então deixei pra lá.