Perguntas de Uma Geração Perdida

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Postado por:Maria Raquel

Nossa geração está perdida. Não pelo grande número de gays assumidos que circulam pelas ruas de mãos dadas. Não por nossas mulheres se vestirem como "vadias".
As gerações antes de nós tiveram uma ditadura e suas poupanças roubadas.
Estamos perdidos em um labirinto de ideias e informações.
Nós não temos pelo que lutar.

E aí temos uma manifestação pacífica que acabou não sendo tão pacífica assim.
E outra manifestação que foi pacífica mas que o despreparo por parte das autoridades acabou por torná-la muito menos pacífica que a primeira.
A desculpa usada para as manifestações chega a ser até ridícula. Mas desculpas não são todas ridículas?
"Não é isso que você está pensando", "to chegando", "só mais um episódio".

Agora a causa. Aí é que pega. Qual é realmente a causa?
A corrupção? Mas essa não deveria ser combatida nas urnas?
A violência? Por parte de quem?

Existem muitas perguntas sem respostas.
E com essas perguntas, outras perguntas mais.
Qual a solução para todas as revindicações? Soluções concretas existem?
Quem está por trás de tudo isso?
É alguém que vai mudar algo mesmo? Ou iremos reencenar A Revolução dos Bichos mais uma vez?
(Porque 1917 não foi suficiente.)

Estamos procurando uma causa pela qual lutar.
Mas será que estamos escolhendo a certa?
Será que é realmente necessário lutar por algo?

Então ocorre um grande ato de repressão. E os espíritos são reacesos. Jovens se sentem dentro do romance de Vítor Hugo. Aí está sua causa! Aí está pelo que lutar!

Mas será mesmo? Será que estamos vendo isso do ângulo certo?
Será que não estamos olhando perto demais? Talvez seja necessário um olhar mais amplo. Erguer a cabeça um pouco para ver o que está lá em cima.
Acima das balas de borracha e do gás lacrimogêneo.
Sei que é difícil, sei que é dolorido. Sei que não fomos ensinados a isso.
Erguer a cabeça. Fomos sempre ensinados a dizer "sim, mamãe", "sim, professora".
Será que essa é uma luta do povo mesmo?

E se for ganha (utopia, mas não custa nada pintar o cenário na imaginação), o que é que acontece?
Bom, sabemos como terminaram as lutas dos livros.
E espero que não tomemos o mesmo rumo. Não quero nem virar porca, muito menos acabar morta.

Uma Namorada

domingo, 16 de junho de 2013

Postado por:Maria Raquel

Eu na verdade nunca gostei de você. Consigo enxergar isso claramente agora.
Não do jeito que eu achava que pudesse gostar durante aquele pequeno período de tempo.
E acho que você nunca gostou de mim desse jeito também.

Tudo o que não ocorreu entre nós, as palavras não ditas e as atitudes não tomadas. Nem só por isso é que afirmo que você nunca gostou de mim.
Não desse jeito que você pensou que gostava.
Quer dizer, pensou? Você alguma vez pensou que gostava de mim?
Alguma vez chegou a meramente cogitar que gostava de mim?

Bom, não vem ao caso. O caso é que a gente não se gostava. Porque se se gostasse teria pelo menos tentado ficar junto. Uma pergunta adivinhada e uma resposta tão explicada não deveriam ter nos parado. Se a gente se gostasse mesmo.
Se estivéssemos em busca da mesma coisa.

Mas não era o caso também. Porque você estava procurando por uma namorada.
Alguém que segurasse sua mão enquanto passeavam pela rua. Alguém pra assistir as mesmas coisas chatas que você. Alguém pra ir no cinema. (Eu nem gosto tanto assim de cinema.)

E eu só queria alguém que gostasse de mim.
Não pelas coisas que eu gosto, ou pelo que eu falo.
Mas pelo conjunto todo. Pela minha pessoa.
Alguém que eu também gostasse de volta.

E você só queria uma namorada.


Pão de Mel

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Postado por:Maria Raquel

Na primeira mordida tudo parecia igual. Apenas mais um pão de mel delicioso, cobertura de chocolate e recheio de "prestígio" (um leite condensado com coco).
Mas a partir da segunda tudo mudou naquela tarde.

Será que era eu? Será que meu cérebro tinha dado tilt?
Ou será que mais alguém já se sentiu desse jeito?

Porque conforme comia aquele pão de mel, a sensação era a mesma que abraçar minha mãe.
Uma sensação deliciosa, algo familiar.
Um dormir na cama com ela antes do meu pai chegar do trabalho. Um beijo rápido e um "bença" desleixado antes dela ir trabalhar. Uma lasanha de domingo que só ela sabe fazer. Um perfume característico, aquele que só ela tem.
Um abraço.
Abraço de mãe.

São algumas coisas que deveríamos tirar um tempo para aproveitar.
Algumas poucas coisas que nos fazem sentir uma sensação diferente. Aquela sensação leve de que temos todo tempo do mundo. A sensação de abraço de mãe.
Uma dessas coisas foi o pão de mel.

A outra?
Só o abraço mesmo.

 

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