Mudança Abrupta
No baralho de Tarô, a 12ª carta da Arcana Maior é representada pela Morte.
A ideia atual sobre a morte é que ela traz consigo algo ruim.
O fim sem volta.
Mas não é assim na leitura do Tarô.
A Morte para o Tarô representa uma grande mudança.
Uma completa transformação.
Se tivesse feito uma leitura antes de te conhecer provavelmente essa carta sairia.
Estranho assim mesmo, mas as cartas nunca mentem.
Não é o que dizem?
Não fiz leitura nenhuma.
Nem acredito em prever o futuro através de cartas de um baralho.
Parece algo tão tolo para colocar toda uma vida ali.
Mas tenho quase certeza que essa carta estaria entre as outras da mesa.
É que foi algo tão repentino.
Uma mudança tão abrupta.
Que só uma carta de Tarô conseguiria explicar.
Da prateleira de:
Doces
Bons Tempos
William Wordsworth, em seu poema de ode à Revolução Francesa, diz:
"Bliss was it that dawn to be alive,/But to be young was very heaven!"*
("Êxtase era estar vivo naquela aurora,/Mas ser jovem foi o paraíso!")
O mundo muda constantemente, mas parece estar sempre no mesmo lugar.
Ser jovem é sempre excitante.
Estar jovem durante uma revolução, é o mesmo que o paraíso.
Ser jovem durante uma mudança maciça no estado de se viver no mundo, é incrível.
É também incrível que a maioria das pessoas não tem a consciência desse "estar vivo no mundo".
Fazer parte de uma revolução sem perceber é tanto uma benção quanto uma maldição.
No entanto, saber estar parte do mundo a sua volta traz um êxtase sem igual.
Vivemos uma mudança de eras.
Em 1800, as grandes revoluções mudaram o mundo.
Em 2000, a internet e nossos celulares mudam o jeito de viver a cada dia.
Há um certo êxtase em estar vivo nessa aurora.
Nessa aurora, apresentada entre prédios, por um vídeo em um site qualquer.
Filmado do outro lado do planeta.
São tempos doidos para se viver.
E são tempos bons para se estar vivo.
*The French Revolution as It Appeared to Enthusiasts at Its Commencement
Da prateleira de:
Salgados
Pensando em Você
Tenho pensado bastante em você ultimamente.
O que não é uma boa coisa, já que você tem namorada.
Não que eu leve a sério suas namoradas. Não quando você mesmo não as leva tão a sério.
Ou leva, não sei. Talvez você as leve a sério no momento em que está com elas, mas quando não estão juntos não é tão importante assim.
Sinto um pouco de pena delas, na verdade.
Me pergunto se elas sabem no que estão se metendo.
Provavelmente não.
E é por isso que não é bom pensar tanto assim em você.
Porque quando estamos juntos você faz me sentir como se fosse importante.
Mas sei que não é tanto assim.
É seu jeito, eu sei.
E é justamente por isso que não é bom pensar tanto em você.
Mesmo que seja contraditório.
Porque é realmente bom pensar em você.
Azeitonas
Segundo a Teoria da Azeitona (The Olive Theory) uma pessoa que não gosta de azeitonas um dia poderá encontrar alguém que gosta e que irá comer as azeitonas rejeitadas de sua pizza.
Isso mostra que pessoas diferentes podem ser perfeitas uma para outra.
Os opostos se atraem e se completam.
Por muito tempo achei que não gostar de azeitonas e dá-las para outra pessoa era um sinal de afeto.
Desperdiçar aquela pequena bolinha colorida da pizza parecia errado.
E quando se está cercado por mais de uma pessoa que está disposta a comê-las por você, dar sua azeitona para alguém parece uma guerra de quem é mais importante.
A minha, por exemplo, sempre ia para meu pai.
Até que a vida muda e você se vê não tendo ninguém a quem dar aquela azeitona.
Parece um desperdício e tanto não comê-la.
Então você o faz.
E não é tão horrível quanto se lembrava que seria.
E continua fazendo. Não parece justo desperdiçar uma azeitona perfeita.
Não parece lógico não sermos autossuficientes. Não parece racional ter que dar sempre ao outro algo que é naturalmente seu.
Passar de fase a fase da vida dando as azeitonas de seu pedaço para outra pessoa.
Quando se passa tempo suficiente sozinho, se aprende a comer as próprias azeitonas.
Entre Estados de Espírito
É estranho como sempre queremos o que nunca podemos ter.
Estar sozinho faz com que sintamos falta de pessoas, estar com pessoas faz querer estarmos sozinhos.
Mas estar lá sempre me faz querer estar aqui.
Quando estou aqui é a vontade de estar lá que prevalece.
O ar de familiaridade às vezes prevalece à vontade de ver o mundo.
A segurança, os cheiros, o quarto de infância.
Os mesmos azulejos antigos do banheiro, e os batentes de madeira sólidos das portas.
O pôr do sol de pintura que se vê através da janela.
E o barulho da madrugada de domingo.
Parece que só se pode ser você mesmo quando está lá.
Alguém diferente do que mostra aos outros.
Alguém mais solto, melhor.
E mesmo assim, é incrível o quanto se quer partir quando se está lá.
A familiaridade não basta e acaba enchendo, sufocando.
Mas é bom saber que vai estar lá.
Sempre que precisar voltar.
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